Atropelada na MG-173, sagui-caveirinha terá papel decisivo na luta pela conservação da espécie
Martinha foi atropelada na rodovia MG-173 Maria Fernanda Araujo Ferreira A história da Martinha, fêmea de sagui-da-serra-escuro ganhou um novo capítulo. Depo...
Martinha foi atropelada na rodovia MG-173 Maria Fernanda Araujo Ferreira A história da Martinha, fêmea de sagui-da-serra-escuro ganhou um novo capítulo. Depois de seis meses internada no Hospital Veterinário da PUC Minas, em Poços de Caldas (MG), ela está totalmente recuperada dos ferimentos provocados por um atropelamento na rodovia MG-173. Mas, embora tenha sobrevivido, não poderá voltar à natureza devido às sequelas. O sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), também conhecido como sagui-caveirinha, é uma das espécies de primatas mais ameaçadas do mundo, restrita à Mata Atlântica e alvo constante de atropelamentos e perda de habitat. Martinha foi resgatada em abril deste ano por uma equipe da concessionária EPR Sul de Minas, após ser encontrada caída às margens da rodovia com fraturas graves. A recuperação exigiu manejo rigoroso de dor e nutrição, conforme explica a médica veterinária Erika Fruhvald, responsável pelo atendimento. “Ela chegou com desconforto evidente por dor, então basicamente fizemos manejo da dor e alimentação hipercalórica para manter o score corporal durante essa recuperação, enquanto avaliávamos a possibilidade de cirurgia e quais sequelas”, relembra Erika. Animal da espécie sagui-da-serra-escuro ficou seis meses em recuperação Emanuelly Corrêa Ribeiro Entre as lesões, uma fratura de pelve deixou o canal do parto estreitado, impossibilitando que ela tenha filhotes naturalmente. Por isso, Martinha agora seguirá para o Centro de Conservação dos Saguis-da-Serra da Universidade Federal de Viçosa (UFV), especializado na espécie e que participa de iniciativas de restauração populacional. Segundo Erika, a pequena primata terá um papel importante nos estudos sobre a espécie. “Por ser uma fêmea com sequela de estreitamento de pelve, ela deverá compor um grupo para estudos de comportamento social e, caso ela venha a gestar, poderá ser submetida à cesariana para resguardar a vida dela e do filhote, já que será auxiliada por cuidados humanos”. Além disso, Martinha poderá ajudar no processo de reintrodução futura de indivíduos criados em cativeiro. “Ela poderá transmitir comportamentos da natureza para indivíduos nascidos em cativeiro, o que é essencial para que, quando forem reintroduzidos, multipliquem esse ensino em seus descendentes e viabilize a sobrevivência de toda uma população”, ressalta. A especialista reforça que recuperar populações de primatas é um desafio que envolve tempo, recursos e conhecimento sobre comportamento social. “Se soltamos um indivíduo em um bando de vida livre, há muitos riscos dele ser excluído e até ir a óbito, pois o bando não o aceita. E ele sozinho, não sobrevive”. “Quando falamos em soltura de primatas, precisamos viabilizar soltar grupos já bem estabelecidos em cativeiro, e a Martinha poderá ensinar comportamentos naturais para animais que nascem em cativeiro”, conclui. Animal não poderá retornar à natureza por conta das sequelas Emanuelly Corrêa Ribeiro Atropelamentos e perda de habitat Para Erika, casos como o da Martinha ajudam a jogar luz sobre o impacto das rodovias na fauna brasileira e sobre a urgência da conservação da Mata Atlântica. “A principal ameaça é a perda de habitat. É uma espécie que só ocorre nesse bioma e isso a torna vulnerável a qualquer modificação natural ou antrópica desse ambiente natural”, alerta a veterinária. Nesse ponto, o papel das concessionárias e do poder público no atendimento a animais vitimados em rodovias faz toda a diferença. “As concessionárias que gerem rodovias possuem total responsabilidade em cuidar de qualquer animal vitimado. Isso significa ter parcerias de hospitais e clínicas capacitadas, recolher cadáveres e, principalmente, ter um programa de mitigação de atropelamento de fauna com corredores e túneis de passagem de fauna”. Para rodovias não concessionadas, Erika lembra que a atuação depende dos órgãos ambientais, que nem sempre possuem recursos suficientes. Conscientização O caso da Martinha também tem importância na conscientização do público. “Quando casos assim caem na mídia, despertam a empatia e sensibilidade da população. Hoje, a conservação de espécies ameaçadas está em contemplar um pilar essencial: educação ambiental”, diz Erika. “Essa reportagem, por exemplo, é uma oportunidade de mostrar pros brasileiros espécies exclusivas do país, que precisam de todos nós para causar menos impacto ambiental e preservar o bioma desses animais”. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente
